Notes on Pandemic: Preciso me Sentir Mal por ser Privilegiada?
Eu atribuo às minhas três kids como estou conseguindo me adaptar bem a esse lockdown forçado. Não faz muito tempo que o tédio começou a comandar a minha vida e não há nada que eu ame mais do que ficar bored at home. Sempre fui caseira, morria de preguiça de sair a noite, só ia porque meus amigos iam, mas sempre preferi o esquenta na casa de alguém do que a festa em si. Trabalho de casa há anos, sempre fiz meus horários e tenho uma capacidade de concentração que fui aprimorando já que moro com três crianças há 4 anos.Acho que a maternidade me preparou para esse caos que estamos vivendo. Adaptei a minha vida, mas nem tanto. E com a pandemia tem sido a mesma coisa, não sinto que abri mão de muita coisa, que a minha vida mudou tanto assim. Igualmente quando tive meus filhos, o fato de ter ajuda em casa pareceu anular o direito de me sentir exausta, confusa, triste e com o coração cheio de amor ao mesmo tempo. Ouvi de pessoas de perto e de longe, críticas com relação a esse privilégio quando as crianças nasceram. E na pandemia é a mesma coisa, parece ninguém que tem privilégio (seja ele qual for) tem o direito de reclamar ou de sentir coisas ruins, de ser apenas humano.Tenho preocupações como todo mundo, tenho pânico dos meus pais, sogros e avós do meu marido pegarem Coronavírus e também do que o isolamento social pode fazer com eles. E tenho muito medo do futuro econômico do nosso país e de como isso pode afetar os meus sonhos, dos meus filhos e a vida de milhares de brasileiros que vivem a margem da sociedade. A desigualdade social do Brasil é o maior combustível para essa culpa do privilégio, mas a única coisa que eu posso fazer por ela é trabalhar em cima do respeito.
3 Maneiras de Trabalhar a Culpa do Privilégio
- Self-respect. Tenho que me respeitar e não me sentir mal pelos meus privilégios, sendo muito grata por ter tido muita sorte por ter nascido em uma família com recursos sociais, financeiros, com uma forte base educacional e muito amor. Aprendi a reconhecer e a valorizar isso, com certeza meus filhos me mostraram algumas coisas que eu não enxergava, não via o esforço dos meus pais com tanta clareza. Me respeitando, eu conheço os meus limites e fica mais fácil reconhecer o limite dos outros.
- Responsibilities. Acredito que a nossa responsabilidade com o próximo é proporcional ao nosso privilégio, e isso começa na relação que a gente constrói com as pessoas que trabalham para nós, dentro da nossa casa. Acho que isso sim pode ser cobrado de quem tem privilégio, mas nada além disso.
- Empathy. Ter empatia é saber se colocar no lugar do outro, sem querer nada em troca, sem julgamentos e entender que cada a forma de agir de cada um é consequência de uma vida inteira de comportamento, de referências, de criação e de experiências. Esperar que os outros ajam ou reajam da mesma forma que você é negar a complexidade do ser humano e só gera frustração. Enxergar os outros e aprender a gostar deles como eles são, com todo o pacotinho bom e ruim, é para os fortes.
"Everyone is fighting a battle you know nothing about. Be kind always."
P.S. Você é vulnerável o suficiente para se conectar? and Quando eu me abri demais e me senti super vulnerável.