Sobre estar offline para deixar a vida passar mais devagar.

“Renata, kd você? Te mandei uma mensagem hoje pela manhã....  Tentei te ligar, mas vc não atendeu...”

Sempre fui uma pessoa nostálgica, daquelas que procuram o passado pelos cantos do presente. Relembro histórias com gostinho de saudade e vontade de voltar no tempo. Isso provoca uma certa dor no peito, uma angústia sem solução.

Por causa disso, e já há muito tempo, desenvolvi uma técnica que não me permitisse cogitar a passagem rápida dos momentos especiais. Eu paro, procuro um ponto para fixar meu olhar (ou fecho os olhos mesmo) e repito para mim mesma, várias vezes, o que estou fazendo, onde e com quem estou. Sinto verdadeiramente aquele momento presente. Não me permito dizer jamais: “Nossa, o tempo passou tão rápido. Nem percebi”. Faço isso desde menina.

Hoje a questão é a maternidade e com ela vem a frase que as pessoas mais martelam em nossas cabeças - “aproveita que passa rápido demais”.

Semana passada voltei de uma viagem de férias à Disney. Meu marido e eu esperamos o momento que achávamos ideal para levar nosso menino. Viagem muito esperada pelos três.

Queria passar para meu pequeno minha “fórmula” de guardar e viver 100% esses momentos preciosos, mas eu sei que isso depende de cada um, de temperamento e maturidade. Mesmo assim, conversamos.

Foi quando notei um “elemento” tão útil e tão perturbador frequentando parques, restaurantes, conversas e espetáculos: celulares. Estes grudados nas mãos das pessoas e elas, por sua vez, com seus olhos vidrados nas telas do aparelho móvel. Quantas famílias não vi passar e quantas crianças não vi aprontar, chorar ou gargalhar sem que seus pais as notassem. Parecia que não estavam ali e só seriam “resgatados” ao se sentarem num carrinho e sentirem o frio na barriga de uma montanha-russa, ou então ao som de um dragão cuspindo fogo numa cidade cheia de magia. Quem sabe? Ao dragão provavelmente assistiriam via a tela do celular, para postarem em seus stories imediatamente.

Sentada num restaurante do Epcot Center, observei quatro mesas vizinhas. Não tinha uma pessoa sem os olhos fixados em seu celular. Nenhuma! Fiquei pensando se estavam vivendo de verdade aquele lugar e o quão importante eram as suas companhias. Observava e fazia questão de mostrar para o meu filho aquele cenário. Tenho pavor que ele cresça achando isso tudo muito natural.

Tamanho foi o meu incômodo que tomei uma decisão meio de supetão: resolvi me desconectar durante esses doze dias de férias. Sem Instagram, email e Whastapp. Prometi que nada me distrairia e que eu viveria intensamente esses dias com minha família, para guardar no coração e ter a lembrança de dias intermináveis. Assim, não me distraí com vidas alheias, guerras entre instagramers, análises da concorrência e nem com a ansiedade da rotina correndo paralelamente. Não ignoro aqui jamais o conteúdo de valor, as amizades e o trabalho. Mas peço desculpas, realmente queria foco. E é impressionante o valor que tem uma simples brincadeira, sem interrupções e outros pensamentos. Considero que tive sucesso e recomendo o “detox”.

Alguns dias mais tarde, respondo o Whatsapp...

“Desculpe! Estava mesmo off-line nos últimos dias, curtindo a minha família com toda a minha atenção e presença. Doze dias muito bem vividos”.

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