Porque Precisamos Falar Sobre Burnout.

Impressionada e, de certa forma, aliviada – esses são meus sentimentos quando ouço alguém falar de burnout. Impressionada por ver o quão frequente esse termo tem invadido as minhas conversas, leituras e eventos. E aliviada, por ver que encontro cada vez mais mulheres que, conscientes da situação, buscam ajuda e se redescobrem no meio do caos: mudam o estilo de vida, as prioridades e muitas vezes até a profissão. E, sim, tornam-se mais felizes depois do susto.

Eu sou uma delas: minha crise aconteceu em 2012. Estava num pico maluco de trabalho, finalizando um MBA e ainda passando por decisões pessoais difíceis (como se iria acompanhar o marido numa mudança de cidade). No meio de uma aula de matemática financeira – tema que sempre me causou calafrios – comecei a passar mal. Fui levada ao hospital por um colega e, após vários exames, o diagnóstico: fisicamente, estava tudo bem. Mas uma exaustão física e emocional precisava ser tratada com urgência. Não dava mais pra continuar assim. Eu não queria mais continuar assim!

O médico me deu dois dias de licença e pediu que eu os obedecesse, rigorosamente, pro meu bem. Acatei a ordem e aproveitei esse tempo para pensar em caminhos. Sempre fui super independente, daquelas que resolve tudo sozinha, mas percebi que dessa vez eu precisava de ajuda – e profissional. Liguei pra mãe de uma grande amiga, que é uma psicóloga respeitada e em quem confio muito, e pedi socorro. Estava assustada.

Estudos apontam que a síndrome de burnout afeta mais mulheres do que homens. Nós estamos acostumadas a uma atividade intensa constante – carreira, filhos, casa, atividade física, unhas feitas, etc. etc. – e não paramos nunca, pelo contrário: só acumulamos jornadas. Tive o prazer de conhecer a Sheryl Sandberg, super executiva do Facebook em uma viagem ao Vale do Silício, e lembro de um artigo dela, publicado no The New York Times, no qual ela fala que somos mais atingidas porque não nos lembramos de seguir a orientação das aeromoças: colocar em nós mesmas a máscara de oxigênio antes de ajudarmos os outros. Sem contar que estar sempre ocupada é meio que culturalmente bem visto, né? O ócio virou quase que um crime! É como se reservar tempo para descansar fosse sinônimo de preguiça.

Lembro que bem nessa época recebi o seguinte feedback positivo de um chefe: “você é um trator. Resolve qualquer coisa!”. E isso me marcou! Não queria mais ser um trator. Estava decidida a ter mais leveza. Comecei então minha jornada: inicialmente, com sessões semanais de terapia. Voltei a fazer atividade física – algo que eu amo, mas que “não tinha tempo”. Incluí até uma sessão de shiatsu na agenda. Passei a priorizar alguns momentos só meus na rotina, fazendo coisas que eu amo. E aprendi a falar não: pra coisas e pessoas que não me agregavam mais (eita parte difícil essa! rs). Inclusive para horas-extras e reuniões fora do horário do expediente.

Acho que não existe receita de bolo nesse caso. Cada uma encontra um caminho mas, uma certeza, é que o primeiro passo é ter consciência: de que tem algo errado e de que é preciso buscar ajuda. Porque não, não é normal viver com o coração acelerado, numa correria desenfreada e numa exaustão constante. É claro que existem fases assim, mas não pode ser esse o padrão.

A parte boa é que tenho conhecido mais histórias felizes do que tristes nesse ponto: mulheres que, após o susto, se reinventaram. E que hoje estão mais realizadas e mais conectadas com aquilo que traz alegria. Que continuam correndo, numa rotina maluca, mas que não abrem mão de 1h de massagem por semana, ou de qualquer outro minutinho de autocuidado.

Cheguei à conclusão de que a correria meio que faz parte do jogo, mas em alguns momentos eu preciso respirar. E dessas pausas eu não abro mais mão.

Você já teve burnout?

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