Sobre o meu detox de vinho

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Hoje tomei um vinho sensacional. Degustei cada gole bem devagar, sorvendo o sabor, percebendo o aroma aos poucos aquietando minha mente e elevando meu espírito, intensificando o gosto da comida, o som da música e o charme do lugar.  Não devia ser um vinho caro e para ser sincera jamais conseguiria distinguir o tipo de uva ou a safra (não tenho esse talento). Mas o motivo da intensidade das sensações não tinha nada a ver com o rótulo, mas sim com outro fator: era a primeira taça depois de um par de meses sem beber. Sei que os abstêmios vão achar que pareço uma alcoólatra anônima escrevendo, mas os que compartilham comigo dessa inclinação hedonista entendem o dissabor que é recusar uma taça, ou mesmo uma caipirinha ou uma cerveja estupidamente gelada quando a situação é propícia.

Foram alguns almoços ou jantares com amigos ou em família, momentos de celebração ou simplesmente noites calmas no silêncio da minha casa, lendo ou escrevendo, dezenas de momentos em que desejei um tinto aveludado ou um branco bem geladinho para torná-los ainda mais extraordinários. Outro dia ouvi a escritora Martha Medeiros, uma das minhas cronistas favoritas, falando exatamente sobre isto: o poder do vinho de marcar momentos, torná-los ainda mais especiais. Por isso durante esse período auto-imposto de detox, tive muita dificuldade de explicar (e principalmente de entender) o motivo que me levou a fazê-lo, sendo o vinho uma fonte de prazer.  Mas o fato é que, de uns tempos para cá, ele havia perdido para mim essa conotação. Passou a ser mais um hábito, e inclusive passei a questionar seu valor. Algumas vezes pedia uma bebida já pensando que não deveria fazê-lo, imaginando o impacto no meu nível de energia e disposição no dia seguinte. Acho que passei a construir toda uma ilusão de como seria a existência sem álcool, com todas as minhas células e órgãos embriagados de água e energia. E se tem algo que tira a vibe de qualquer coisa é fazê-la com culpa.

E foi assim, mesmo que sem passar por esta linha completa de raciocínio, que me propus a um pequeno sabático para enxergar o tema com a perspectiva da outra margem do rio. Esses pequenos hiatos já me ajudaram em aspectos bem mais relevantes da minha vida. E hoje posso contar, sem nenhuma culpa ou vergonha, que o principal benefício dessa minha breve privação foi o de voltar a me apaixonar.  Sem querer fazer apologia, mesmo porque beber sem moderação transforma momentos especiais em momentos absolutamente desastrosos, mas voltei a entender que, para mim, o vinho tem mais benefícios do que malefícios (novamente, se consumido em doses moderadas). E não falo dos benefícios comprovados por estudos científicos, de prevenir doenças cardiovasculares, diminuir a pressão arterial e controlar o colesterol. Falo do bem-estar sutil e do prazer que é poder harmonizar (usando um verbo de sommelier) uma taça de vinho com um bom papo, uma atmosfera charmosa, uma boa música.  Bendito seja o criador do fruto da vinha!

Quando for beber seu vinho, compartilhe a hashtag #lollawineclub

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